Page 30 - Boletim APE - 250
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 “A REPúBLICA, O INSTITUTO, AS TUTELAS
& OS TUTELADOS...” (XXIV)
FRACTURAS NO «SEIO DO MFA»... 25 DE NOVEMBRO DE 1975 (II)
 25 DE NOVEMBRO – qUANTOS GOLPES AFINAL?
“os futuros compêndios de História poderão resumir o evento em escassas linhas: após um verão Quente de dispu- ta entre forças revolucionárias e forças moderadas, pela ocupação do poder, civis e militares chegaram ao outono a contar espingardas”.(1)
A 27 a “sua” consolidação... já no rossio
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quando se pretende desencadear uma qualquer acção
militar, há que elaborar um “plano” e garantir-se um “chefe” para o dirigir, coordenar e comandar. Fazer “planos” será fácil, mas, o que se torna imprescindível, é colocá-los em prática. Neste caso, ao que parece (assim, terá sido) existiam “planos” a mais e, “chefes” a menos. Dizendo, de outro modo (gíria do mar): no momento haveria “mais marés que marinheiros”.
1. Os Gonçalvistas tinham um plano?
2. A Extrema-esquerda tinha um plano?
3. O PCP tinha um plano?
4. A Direita tinha um plano?
5. Os Páras tinham um plano?
6. Por onde andavam os “Planos do PS e, ou do PSD”? 7. Os Moderados tinham um plano?
8. A revolução tinha que acabar.
Cito:
“Cada um destes incêndios contou com o bombeiro de ser- viço Costa Gomes, cujo percurso é um verdadeiro manual de sobrevivência e inteligência política”.
“Era uma fatalidade histórica. Por isso todos o reconhe- cem, o 25 de Novembro, tinha que se dar. “Não foi um acto de alegria, foi um acto necessário”.
“Mas tal como se deu, deve-se fundamentalmente à acção de três homens: O incendiário Pinheiro de Azevedo, o fleumá- tico Costa Gomes, o obstinado Vasco Lourenço”.
“O aventureiríssimo esquerdista e a conjura imperialista, criaram as condições para o triunfo do golpe de Estado do 25 de Novembro de 1975, que, pondo fim ao MFA, levou a uma radical alteração na correlação de forças nos órgãos de Poder e ao encerramento do ciclo revolucionário”.(2)
Volto a citar:
“Nunca se falou tanto de revolução, de socialismo e de MFA, justamente quando através das «Bases Para a Reorgani- zação das FAs», da responsabilidade do já e então CEME Ra- malho Eanes, iniciava-se a certidão de óbito ao MFA”.
“E talvez seja esta uma das mais pesadas heranças de Novembro: esse desajuste dramático entre o discurso e a rea- lidade, que é ainda hoje a debilidade maior da vida portu- guesa. Vem de trás, certamente, mas a República de Novem- bro(3) acentuou fortemente essa esquizofrenia ideológica e cívica”.
“Há uma hábil intenção de apagar os factos, de reduzir a complexidade a um único acontecimento. Farão do 25 de No- vembro um feriado, celebrando a vitoriosa defesa da Revolu- ção. Sim, misturaram os dados de tal maneira, que uma coisa facilmente passa por outra. Os culpados por vítimas, as pala- vras por factos, a propaganda pela realidade. Quando chego a uma conclusão, tudo volta ao começo, encontro-me no iní- cio de uma nova pista” (Seixas Santos, Gestos e Fragmentos).(4)
E, ainda:
«25 de novembro de 1975: um dia final que não foi inteiro nem limpo»(5)
“Existe ainda (hoje) uma intensa polémica à volta do que foi o 25 de Novembro – e há dados que ainda não estão total- mente esclarecidos – porém é indiscutível que esta data marca o início do fim da revolução e a consolidação daquilo que An- tónio de Sousa Franco, insuspeito apoiante do PSD, economis- ta e cientista social, chamou a «contra revolução democráti- ca» e que, fruto da força ideológica dos vencedores é hoje ape- lidado de «normalização democrática»”.
Hoje, poderemos dizer e, ou sentir, que, «Em 25 de Novembro de 1975 não começou um país mítico de sonho, de igualdade e justiça, alicerçado num Pacto Social duradouro. Começou o fim de um sonho, de gentes pobres, quantas analfabetas, estudantes, intelectuais, trabalhadores de diversos sectores que não acreditavam só utopicamente numa sociedade mais igual, acreditavam, e essa é a história da Revolução de Abril, que podiam ser eles a fazê-la, a construi-la, em vez de delegar nos outros esse poder».
E, recordar ...
A vivência, no País, nas vésperas do 25 de Novembro, era descrita como segue: “nesta complicada tragicomédia, os enredos são tão difíceis de entender e de explicar que até o Presidente da República, na televisão, reconheceu-se incapaz de fazer o ponto da situação”(6).
E, ainda, referir:
“do 25 de novembro emergiu um líder, Ramalho eanes, que em 1976 seria o primeiro presidente da República eleito após o 25 de abril”(7).
M. A. Borges Correia
19470332
  28 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • Julho-Setembro 2018






























































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